segunda-feira, 21 de junho de 2010

domingo, 30 de maio de 2010

Análise_Em busca de Autonomia


A busca da autonomia


Somos paparicados a vida inteira e custamos a crer que temos o dever de sermos independentes. E não só o dever: faz parte do amadurecimento a busca pela verdadeira autonomia. Mas como alcancá-la?

Foi tudo rápido. Armado com um fuzil, o homem entrou no banco da frente, colocou o motorista do jipe sob sua mira e o jornalista norte-americano David Rohde, sentado no banco de trás, se viu como refém da ala mais linha-dura do exército taleban. Era novembro de 2008 e ele permaneceria sete meses e dez dias entre a vida e a morte.

Eu não conseguiria imaginar como reagiria na situação dele: dependente das decisões dos chefes da guerrilha, dependente de negociações internacionais que envolviam sua libertação, dependente dos humores dos carcereiros e das reações de seus companheiros de cela. Mas havia alguma coisa que David não tinha perdido: sua autonomia. Ao ser preso e conhecer o líder que se denominou Atiquillah, não hesitou em chorar e pedir clemência com o fi rme intento de comovê-lo. Não deu certo. Depois, contou como sempre procurou colocar os dois lados da questão Afeganistão/EUA nas suas matérias como correspondente do New York Times. A reação foi gélida. Contra-argumentou que não valia muita coisa e que 7 milhões de dólares era muito dinheiro pelo seu resgate. E que se, além disso, eles pedissem publicamente a liberação de presos afegãos em Guantánamo, Atiquillah podia esquecer a história. Melhor, sugeriu David, mais confi ante, era manter um possível acordo secreto e pedir a liberação de presos em Cabul, capital do Afeganistão. E, assim, de uma hora para outra, estava o repórter a negociar sua própria liberdade, já com os ouvidos bem mais interessados diante dele.

Os entendimentos se estenderam por meses e o jornalista, sempre atento às suas condições, acabou fugindo do cativeiro com uma corda que tinha conseguido esconder. Mas o que interessa nessa história eletrizante é que, mesmo na total dependência e sob a mira de um fuzil, podemos manter a autonomia. É ela que nos dá a estranha capacidade de se manter sobre os próprios pés mesmo em condições inimagináveis. David não era um ser independente naquela situação. Bem ao contrário: estava à mercê de tudo e de todos, mas continuou a ser autônomo. A independência pode facilmente se tornar arrogante e falastrona. A outra, a autonomia, se manifesta fi rme e sólida como uma rocha. Saber diferenciar uma da outra é essencial para aumentar a nossa confi ança e integridade e também para aprendermos a baixar a crista na hora da prepotência.

Seis pontos de autonomiaNesse mesmo ano, 2008, e nos quatro anos anteriores, o historiador mineiro Célio Turino também presenciou diferentes expressões de autonomia, só que cultural, nos mais longínquos recantos do Brasil. Eram todas iniciativas de populações muito carentes, mas ao mesmo tempo criativas e empreendedoras. Em Maceió, por exemplo, ele viu fi lmes projetados nas velas das jangadas, trabalho do Ponto de Cultura Ideário. No Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso do Sul, conheceu os índios yawalapitis, empenhados em elaborar dicionário, gramática e livros de histórias para que sua cultura e seu idioma não se perdessem para sempre. Isso sem falar no seu site, índios on-line, e na reconstrução da Casa de Música da aldeia, peça-chave nas reuniões dos integrantes da tribo. Também lá, Célio assistiu a fi lmes totalmente encenados, dirigidos e falados na língua dos kuikuros, huni-kunis, kaxinawás e ashaninkas.

Ele acompanhou números de equilibrismo de circo feitos por crianças no lixão de Maceió, a instalação de uma cidade cenográfi ca em Itatinga (CE) e, em Araçuaí (MG), inaugurou um cinema – único do Vale do Jequitinhonha –, recuperado pelos jovens da cidade. Na maior favela de Fortaleza, conheceu as atividades artísticas da Acartes, que tem o nome respeitável de Academia de Ciências e Artes de Pirambu e funciona numa casa estreitinha pintada de amarelo. Ali são apresentados trabalhos de escritores, poetas, dramaturgos, artistas, músicos, dançarinos. A casinha ainda abriga a Fábrica dos Sonhos – uma pequena indústria artesanal de maquinário para teatro e cinema. Eles fazem até gruas por ali. Visitou estúdios de hip-hop na periferia de Teresina e ouviu, encantado, as vozes do Coral Afro-Pomerano, que uniu, em Santa Catarina, culturas tão distintas quanto a dos pomeranos (originários de uma região entre a Alemanha e Polônia) e a dos quilombolas (descendentes de escravos, com ancestrais vindos da África). Maravilhou-se com a autonomia cultural do povo brasileiro. “Presenciei outro país nascendo”, diz.

Essas e outras histórias que envolvem a capacidade de resistência diante da adversidade e a criatividade, qualidades que ajudam a construir e reforçar o sentido de autonomia, ele conta em recém-lançado livro, Ponto de Encontro – O Brasil de Baixo pra Cima. Turino é também secretário do Ministério da Cultura e há cinco anos testemunha essa explosão incontida de criatividade que ocorre no país.

Esses exemplos nos dão a resposta para as qualidades que teremos de cultivar se quisermos reforçar nossa autonomia. Em primeiro lugar, a coragem de arriscar e superar obstáculos. Em segundo, a ajuda de quem pensa igual. Em terceiro, a criatividade diante do que se apresenta à nossa frente. Em quarto, o empreendedorismo. Em quinto, a resiliência, que é o jeito de sacudir a poeira, dar a volta por cima e arriscar de novo. Em sexto, enfrentar com tranquilidade o pavor de errar, fracassar, perder ou se prejudicar. E, à frente e no meio de tudo isso, o prazer. Porque não há dinheiro que pague o sorriso de satisfação que brota no rosto de alguém que exerça plenamente sua autonomia, inteireza e dignidade.

Dá um trabalhãoMas não é preciso demonizar a dependência. Ser dependente é uma condição natural. O desenvolvimento dos seres sempre inclui uma fase de dependência, quando eles próprios não são capazes de se sustentar. É normal que organismos em crescimento se nutram da força, do cuidado e da atenção de outros seres mais desenvolvidos e capazes. O problema é se viciar na dependência, mesmo quando estamos mais do que aptos e prontos para exercitar a autonomia.

O ser humano é o mamífero mais dependente da natureza: seu desenvolvimento leva anos porque não é só físico, mas também mental e emocional. “Uma pulga tem uma prontidão imensa para se tornar pulga. É fácil, pois suas capacidades são geneticamente herdadas. Um homem ou uma mulher precisam dos relacionamentos e do desenvolvimento da consciência para se tornar o que são: seres humanos. Exercitar toda sua potencialidade, ser capaz de escolher, arcar com as consequências de suas escolhas e manter sua autonomia são características do ser humano adulto. Para chegar a esse ponto, leva tempo”, diz a psicoterapeuta Sandra Taiar. E, cá entre nós, leva mais tempo ainda quando se torna cômodo e confortável não amadurecer. Porque dá trabalho ser responsável por si mesmo, e não é fácil se colocar na condição de risco e vulnerabilidade que faz parte da existência do ser maduro. Como bebês gigantes, preferimos nos deleitar numa sonhada condição uterina, em que o outro se responsabiliza e cuida de nós. Ficamos dependentes dos recursos externos, seja porque pensamos que não os temos, seja porque nos acomodamos com o que não demanda esforço. E o que empurraria, então, uma pessoa na direção desses desafi os? A natureza. Pássaros voam dos ninhos jovens, querem saborear suas potências, em todos os campos, para provar o prazer sem igual da autonomia e da liberdade.

“A vida nos empurra na direção do desenvolvimento, do amadurecimento e da emancipação. É um desenrolar natural”, diz Sandra. Seja numa relação a dois, seja dentro grupo ou numa sociedade, na condição de seres autônomos, nos tornamos inteiros. A relação se dá não mais pela carência do outro, mas por um desejo de compartilhar forças já plenamente desenvolvidas.

“Com 2 anos, a criança passa por uma fase que talvez evoque o primeiro desejo de independência do outro. “É a época do ‘é meu, não dou, sai daí’”, diz Sandra. “É uma fase egocêntrica: o outro é visto como uma ameaça”, diz. Acontece que muita gente parou emocionalmente por aí e acha que isso é independência. Sua noção de autonomia está circunscrita justamente ao “é meu, não dou, sai daí”. Espero que não seja o seu caso.

Independência não é levantar a crista e expulsar o outro da nossa vida. Esse é um desejo de autonomia pueril. Talvez a própria etimologia da palavra mostre o que ela é, pois está apoiada na palavra latina pendere, “se inclinar na direção de”. O ser independente está ereto, inteiro, não precisa se curvar na direção de ninguém. Isso não signifi ca que ele não possa se relacionar, ceder ou negociar. Só que, ao fazer isso, não perde a si mesmo. Mantémse inabalável sobre seus próprios pés – como na história do David, no começo do texto

Mas será que alguém em situações extremamente severas vai conseguir mesmo manter o desejo de ser autônomo? Tudo bem se estivermos com saúde e perfeitos. Mas se a gente for parar numa cama? Vamos continuar a exercer a autonomia? O romancista e roteirista de cinema Dalton Trumbo, um dos mais geniais autores norte-americanos do pré e pós-guerra, respondeu essa questão quando escreveu o livro Johnny Vai à Guerra, que ganhou o National Book Award, o mais alto prêmio literário norte-americano. Na obra, ele conta a história (baseada em fatos reais) de Joe, um soldado que perde todos seus membros após a explosão de uma bomba. Fica ainda sem ver, ouvir e falar e, com isso, perde também a capacidade de se comunicar com o mundo. O que lemos nas páginas de Johnny Vai à Guerra, um dos libelos pacifi stas mais densos já escritos na literatura, é a descrição dos fl uxos de consciência do soldado, suas memórias, sua avaliação da vida. Ele se torna apenas uma mente presa num corpo dilacerado e a única coisa que faz é pensar. Mesmo assim, ele ainda consegue manter sua autonomia, sua consciência. Constata-se, portanto, que ser autônomo é unicamente uma questão interna. Com esse exemplo, não dá mais para se enganar.

Digna resistênciaO próprio Trumbo se envolveu com a questão da autonomia em toda a sua vida. Comunista (na verdade, mais rebelde do que comunista, pois se cansou rapidamente das intermináveis reuniões do partido), presidente do temido Sindicato dos Roteiristas, ainda conseguia ser o profi ssional da sua área mais bem pago de Hollywood. Em 1947, foi preso por um ano por se recusar a depor na Câmara de Representantes dos Estados Unidos e delatar seus colegas, na terrível época do macarthismo. Teve seu nome incluído na lista negra de Hollywood e não conseguia mais trabalho em nenhum estúdio. Ele dizia: “Essa lista vai entrar em colapso porque é podre, imoral e ilegal”. Levou ainda alguns bons anos para que sua profecia se concretizasse.

Trumbo vendeu seu rancho e se mudou para o México. Vendia seus roteiros a preços de banana e sob pseudônimo – ganhou até dois Oscar, um atribuído a Ian McLelland Hunter, roteirista que serviu de fachada para ele no fi lme Roman Holiday (1953), e outro com o nome de Robert T. Rich, por The Brave One (1956). Os tempos fi caram difíceis. Na sua biografi a, constam inumeráveis cartas que ele dirigia a credores, bancos e instituições de crédito por falta de pagamento. Em compensação, dirigiu toda a sua força e capacidade para discutir temas como autonomia, liberdade, honra e dignidade. Escreveu o roteiro de Spartacus, sobre um escravo romano, de Exodus, sobre os hebreus escravizados no Egito, e de Papillon, o último prisioneiro da ilha do Diabo, detido injustamente. Mas talvez nenhum fi lme tenha tratado da dignidade humana de maneira tão profunda quanto The Fixer (1968), uma obra-prima dirigida por John Frankenheimer.

O enredo conta a vida de Jacov Bok, um judeu na Rússia czarista que é acusado de assassinar uma criança. Na prisão, ele conhece o promotor que deseja sua condenação, para servir como intimidação à crescente infl uência judaica. Trava-se, então, um duelo de gigantes, com as interpretações inesquecíveis de Alan Bates, como Jacov, e Dick Bogarde, como o promotor Grusbeshov. Aos poucos, fi ca evidente que Jacov não tem nada a ver com a história. O promotor passa a querer convencê-lo a pedir perdão às autoridades para que ele possa ganhar a liberdade. A grande questão é que Jacov, apesar de já ter a saúde debilitada, exige o julgamento – já que o acusaram, terão de provar sua culpa. “Eu não cometi nenhum crime. Eu não preciso de perdão. Quero um julgamento. Se você tentar me fazer sair sem um julgamento, estará me chamando de criminoso. Não! Agora você vai ter de me julgar”, diz Trumbo por meio das palavras de Jacov. Dessa forma, até a última cena, o roteirista discute o tema central da sua vida: a autonomia e a dignidade mantidas diante de uma acusação injusta.

A pedido de alguns amigos atores e cineastas, Dalton Trumbo e sua mulher conseguem voltar aos Estados Unidos. Ele escreve The Fixer e outros fi lmes já em território norte-americano. Porém, como o próprio Jacov, sua saúde é precária e ele morre de enfarto em 1976, aos 70 anos.

O exemplo de Trumbo é inspirador. Ele nos segreda que há muitas coisas pelas quais vale a pena lutar na vida e o nosso destino não precisa estar invariavelmente ligado ao desejo de querer se afundar numa poltrona e assistir um DVD.

Fonte: Vida Simples

Análise_Em busca de Autonomia



Negociando limites


Definir qual é o limiar de tolerância é hoje o ponto crucial de nossas relações. Porém, como avaliar a situação? Quando é mais indicado incluir o outro e aceitá-lo ou quando é melhor bater o pé?

Lidia Muniz é negra. Negra e loira, aliás, como a cantora norte-americana Beyoncé. Ao viajar no começo do ano para um congresso de terapeutas na Califórnia, o estado mais politicamente correto dos Estados Unidos, ela notou que muitas sorriam ao passar por ela, como querendo dizer: “Eu a aceito do jeito que você é. Por mais diferente que você possa parecer do que eu sou, ou do que eu gosto, está tudo certo”. Depois de 15 dias, esse comportamento supostamente gentil começou a lhe dar nos nervos. “Sei que sou diferente, fora do padrão, e que seria normal uma pessoa olhar para mim surpresa, até com certa hostilidade. Aceito esse risco. Mas era terrível suportar essa tolerância infinitamente condescendente que, no fundo, parecia sussurrar ‘olha, minha filha, tudo bem, você é maluca, mas eu, que sou bem legal e tolerante, vou aceitar sua excentricidade, desde que ela não invada os meus limites e você fique na sua, ok?’” Enfim, provavelmente um conveniente verniz social, tão raso que daria para raspar com a unha.

Difícil, não? Até a tolerância empostada pode ser um ato inconsciente de arrogância. Mesmo quando eu, você e talvez o pessoal da Califórnia achamos que estamos sendo tolerantes, podemos esconder debaixo do pano um baita complexo de superioridade e uma indisfarçável prepotência. Ou então, pior ainda, o eterno desejo de sermos sempre fofos, doces e certinhos como o ursinho Puff.

Por isso é que é bom a gente refletir mais profundamente sobre os limites da tolerância, quando ela é real e desejável, ou exagerada e falsa. Ou quando somos tolerantes com os outros e intolerantes conosco, até o ponto de a tolerância virar autoabuso. Ou ainda quando a intolerância fecha nossos olhares e atitudes e nos torna rígidos e inflexíveis. Essa é uma questão cada vez mais presente em nossas vidas. Não dá mais para passar por cima.

Tolerância é uma palavra ingrata na maioria das línguas latinas. Ela traz em seu bojo a ideia de que é preciso aguentar, suportar, enfim, tolerar alguma coisa porque não se tem outra saída. E, já que não tem jeito, já que não dá mesmo, então engolimos o sapo. Toleramos. O verbo, na sua negativa, é igualmente poderoso: “não tolero aquele fulano”, “não tolero que mexam nas minhas coisas”. Ele nos traz uma sensação de irritação, impaciência e até mesmo raiva com outra pessoa ou situação. A ideia é que um limite foi invadido, ultrapassado, e que fiquei louco da vida com isso. Então não tolero.

“Casa de tolerância”, ou bordel, num outro exemplo, é o lugar onde é possível ultrapassar todos os limites, onde tudo é tolerado, inclusive o sofrimento e a humilhação do outro. Vamos combinar, portanto, que, por causa dessa carga emocional, tolerância não é exatamente a palavra adequada para nos dar uma noção de amplidão, de abertura. Algo leve, prazeroso, acolhedor.

Talvez a melhor palavra para dar essa ideia de expansão de limites pessoais fosse abrangência. Eu abranjo, tu abranges, ele abrange. Abro os braços e o incluo como parte de mim mesmo. A primorosa expressão usada para designar o outro pelo povo kakinawá, da Amazônia, por exemplo, é txai. Ela significa amigo, companheiro, mas também “a outra metade de mim”. Txai é aquele que vai me completar e que, juntos, formaremos um só ser. Além de fazer parte de uma música de Milton Nascimento e Maurício Bastos, a palavra txai é a tolerância exercitada em seu melhor sentido: com o sentimento de que somos todos interdependentes. Sem salto alto, sem arrogância, reconhecendo no outro uma contraparte de mim mesmo

Diferente é a mãeReinaldo Bulgarelli, autor de Diversos Somos Todos, livro que trata exclusivamente do tema diversidade, escolheu o nome txai para sua pequena empresa de consultoria. Reinaldo trabalhou com crianças indígenas na Amazônia em projetos da Unicef, com o educador pernambucano Paulo Freire junto aos meninos de rua, enfim, passou a maioria dos seus 47 anos envolvido com inclusão social e educação. Mas é interessante conhecer onde e como germinou essa incrível aptidão. Foi em 1978, nas reuniões do movimento de juventude cristã que tinham lugar na igreja Nossa Senhora do Rosário, no largo Paissandu, no centro de São Paulo. Na época, a paróquia congregava uma grande comunidade negra. “Tinha 16 anos e era o único jovem branco por ali”, diz. “Mais do que aprender o que era ser negro, me conscientizei do que era ser branco: os privilégios e oportunidades que tinha, a diferença de tratamento que recebia da sociedade. Antes disso, não tinha a menor noção dessa diferença.”

O abismo que separava as duas realidades foi lição suficiente. Reinaldo resolveu dedicar o resto da vida para lutar pela tolerância à diversidade. “A gente sempre pensa que o diferente é o outro, que tenho de tolerar aquele que é diferente de mim. Esse é um grande engano. Cada um de nós é diferente de alguma maneira. A diferença que está no outro também está em nós, se mudamos o ponto de vista. Não há como nos excluir dessa condição de diversidade, que é própria do ser humano”, afirma Reinaldo.

Hoje, além de coordenador de cursos na Fundação Getúlio Vargas na área de responsabilidade social, ele trabalha com inclusão em empresas. Isto é, depois de sua passagem por elas, aumenta significativamente o número de mulheres em cargos de liderança, abrem-se novos setores que incluem deficientes, propõem-se metas mais efetivas de responsabilidade social. Otimista, Bulgarelli acha que no Brasil nos movemos em uma cultura que, no geral, é flexível e tolerante, para o bem e para o mal. “Vivemos numa sociedade que tem o mito da democracia racial, por exemplo. Se, por um lado, esse mito impede que enfrentemos de uma forma mais realista o que realmente acontece, ele também nos acena com a ideia de que é possível caminhar nessa direção. Há algumas sociedades mais rígidas e conservadoras em que esse tipo de pensamento sequer tem lugar”, diz

Mas também pode ocorrer o contrário: o excesso de tolerância que denuncia passividade, lassidão, a falta de resistência contra o abuso. É o que vamos ver a seguir.

A ira santaO excesso de tolerância pode gerar o abuso? João Pereira Coutinho, jornalista português que assina uma coluna no jornal Folha de S.Paulo sobre temas políticos e sociais, tem certeza que sim: “O excesso de tolerância pode levar ao pecado capital: tolerar o intolerante, ou seja, aquele que destrói nossa própria tolerância”.

Com palavras precisas, Coutinho delineia questões que sensibilizaram muitos filósofos: até onde é possível tolerar? Qual o princípio que deve nortear minha tolerância? “O princípio do pluralismo, isto é, a ideia de que existem valores e objetivos de vida múltiplos e nem sempre compatíveis”, diz Coutinho. Mas ele adverte: “Porém esse pluralismo não deve ameaçar os valores que eu considero centrais para uma existência digna. Ou seja: posso tolerar que os outros prefiram viver suas vidas de determinadas formas, desde que isso não ponha em causa minha vida e a vida dos outros”.

É o que o filósofo austríaco Karl Popper chama de “o paradoxo da tolerância”: não se pode tolerar o intolerável. “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”, sentencia ele numa lógica irretorquível.

E o que é o intolerável? “É aquilo que nos causa dor, sofrimento, prejuízo, indignação, humilhação, e que geralmente é causado por um abuso indiscriminado de poder”, diz a psicoterapeuta Denise Ramos, do Laboratório Formativo do Ser, ligado à linha do psicólogo Stanley Kelleman. Esse é o limite: o que pode ser traduzido por “maus tratos” não deve ser tolerado. E há várias formas de reagir diante daquilo que não conseguimos tolerar. A mais comum é a raiva. “Ela é um alarme que nos acorda para um limite que foi ultrapassado, que nos desperta para uma situação que consideramos abusiva.” Mas nem sempre a raiva precisa, necessariamente, ser direcionada contra quem ultrapassou limite.“Às vezes isso acontece, numa reação imediata e legítima contra o abuso. Mas, no mundo adulto, a energia da raiva também pode ser usada como uma mola propulsora para mudar a si próprio e transformar a circunstância abusiva”, diz Denise.

Porém, mais um cuidado a tomar nesse terreno escorregadio. “Se não se deve tolerar tudo, pois seria destinar a tolerância à sua perda, também não se poderia renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam”, escreveu o filósofo francês André Comte- Sponville em O Tratado das Pequenas Virtudes. Isto é, não se pode ser justo só com os justos, generoso apenas com os generosos, misericordioso com os misericordiosos. Porque isso não é nem justo nem generoso nem misericordioso. “Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como acredito e como geralmente se aceita, ela vale por si mesma, inclusive para com os que não a praticam”, afirma. A tolerância, portanto, não é um objeto de troca num mercado, ou espelho que reflete apenas quem a pratica. Tolerância é abrangência. Temos de nos tornar maiores do que somos para poder praticá-la.

Percepção errôneaQuanto mais nítida a noção de separatividade que tenho de alguém, menos eu sou capaz de ser tolerante com essa pessoa. Pois, afinal, eu sou uma, ela é outra. Para os budistas, enxergar as pessoas e coisas separadas umas das outras é como olhar para um tapete e ver apenas os fios individualmente, sem se dar conta de seu entrelaçamento. “Podemos dizer que a teoria da interdependência, da interconectividade entre os seres, é uma compreensão profunda da realidade. Ter esse ponto de visita reduz a estreiteza mental. Com a mente estreita é mais provável desenvolver apego, aversão”, diz o Dalai-Lama no livro A Sabedoria do Perdão, um saboroso relato sobre o cotidiano do líder tibetano feito por seu amigo, o erudito e bem-humorado professor Victor Chan.

O apego ao que achamos que está certo e a aversão por quem não concorda conosco, ou seja, a estreiteza mental, é a base da intolerância. Por isso é que o filósofo Comte-Sponville afirma que é preciso certa humildade para exercer a abrangência: sabemos que nossas crenças e valores são relativos, subjetivos, parciais. O que acreditamos ser verdade não é uma verdade absoluta, que serve em toda e qualquer condição, e para todas as pessoas. Por isso não podemos impô- la. Achar que o outro não pode pensar diferente é o retrato acabado da intolerância, do totalitarismo e do fundamentalismo. Também é por isso que a intolerância está sempre associada à arrogância e à prepotência. É melhor dar uma paradinha, quando achamos que sabemos o que é melhor para o outro. Pois ele tem o direito de não concordar.

Teoria e práticaGandhi foi absolutamente intransigente e firme em sua posição contra o domínio britânico na Índia. Porém, em vez de lutar abertamente, com ódio no coração e derramamento de sangue, preferiu exercitar a resistência não-violenta, baseada na mobilização social e na pressão política. Além de hábil e inteligente, ele tinha abrangência, isto é, uma clara visão de estadista. Entendeu que a resistência pacífica pode ser tão ativa e eficaz quanto uma revolução.

Um presidente do Brasil, Fernando Collor, foi deposto a partir da mobilização pacífica ensinada por Gandhi: os estudantes secundaristas espernearam, bateram o pé, e a sociedade voltou a atenção para eles. Ou seja, a intolerância pode ser combatida com firmeza de posições, manifestações de repúdio e uma pronta reação. E certamente essa não é a posição fofinha do ursinho Puff. É muito importante entender que tolerar não quer dizer ser passivo, indiferente, omisso. “Tolerar Hitler era ser seu cúmplice, pelo menos por omissão, por abandono, e essa tolerância já era colaboração”, acrescenta Comte-Sponville.

“A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência”, afirma claramente em seu primeiro parágrafo a famosa Declaração de Princípios sobre a Tolerância promulgada pela Unesco. É bom a gente não se confundir.

Essas grandes questões também podem ser vividas no dia a dia. Uma das pessoas que mais colaboraram para o estímulo à tolerância no Brasil é a professora Lia Diskin, uma das criadoras da Associação Palas Athena, um centro de referência (sediado em São Paulo) com relação ao estudo desses temas. Os maiores eventos relacionados à cultura de paz dos últimos 30 anos no país tiveram sua participação direta ou presença. Mas nada disso teria valor se ela não aplicasse esses conceitos em seu dia a dia. E aqui gostaria de dar meu testemunho pessoal. Com tolerância, Lia Diskin me recebeu para entrevistasrelâmpago, sabendo de meus prazos estreitos (uma realidade diária no jornalismo) e urgência, mesmo tendo sua mesa repleta de inúmeras questões pendentes. Pessoa ocupadíssima, Lia Diskin nunca deixou de responder meus e-mails, por exemplo, sobre o sentido mais profundo do meu nome budista. Não raro entrei em sua sala sorrateiramente a fim de roubar seu tempo para esclarecer dúvidas pessoais com relação ao cristianismo e ao budismo ou para comentar a fala mais profunda de um entrevistado recente. Mesmo quando foi firme – e quem trabalha com ela sabe o quanto Lia Diskin pode ser severa –, nunca deixou de mandar seu cálido abraço na última linha do e-mail. “Um grande amor pela humanidade, e sua consequente tolerância e compaixão por todos os seres, é capaz de mover cada um dos pequenos atos de uma pessoa no seu dia a dia. É a união final entre a teoria e a prática”, afirma a psicoterapeuta Denise Ramos. Se isso foi possível para Lia Diskin, que se crê tão falha, humana e cheia de defeitos, isso significa que a porta está aberta para cada um de nós.

Fonte: Vida Simples

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Vídeo_Educação Fianceira_12

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Vídeo_Educação Fianceira_09

Vídeo_Educação Fianceira_08

Vídeo_Educação Fianceira_07

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Seminário de Resultados_2GQ_3Dia

3ª Apresentação_ dia 09 de Junho (Quarta-feira)


3ª Apresejntação

1_Grupo_Actus Comunicação

2_Grupo_Expressa Comunicação

3_Grupo_Rumo Assessoria

4_Grupo_Pólo Comunicação

2GQ

Seminário de Resultados

Pontuação_Zero a Cinco pontos
Apresentação: 1 apresentador
Avaliação: Banca Examinadora

Vídeo_Educação Fianceira_06

Seminário de Resultados_2GQ_2Dia

ª Apresentação_ dia 05 de Junho (Sábado)

2ª Apresentação

1_Grupo_Converse Comunicação

2_Grupo_Nativa Comunicação

3_Grupo_Delta Comunicação

4_Grupo_Azul Comunicação


2GQ

Seminário de Resultados

Pontuação_Zero a Cinco pontos
Apresentação: 1 apresentador
Avaliação: Banca Examinadora

Vídeo_Educação Fianceira_05

Vídeo_Educação Fianceira_04

Vídeo_Educação Fianceira_03

Seminário de Resultados_2GQ_1Dia

ª Apresentação_ dia 02 de Junho (Quarta-feira)

1_ Grupo_Flair Play Comunicação

2_ Grupo_Terceira Margem Comunicação

3_Grupo_A3L Comunicação

4_Grupo_Comunica Express


2GQ

Seminário de Resultados

Pontuação_Zero a Cinco pontos
Apresentação: 1 apresentador
Avaliação: Banca Examinadora

Vídeo_Educação Fianceira_02

Vídeo_Educação Fianceira_01

Aula_29 de Maio

Sala 509

Atendimento dos grupos

Preparativos para a Apresentação dos Seminários

Orientação das apresentações

Formato de Avaliação


Seminário de Resultados_2ª Apresentação

Quem Somos (Assessoria)

Nosso Cliente (Nome)

Quem é o cliente

Diagnóstico

Planejamento (Projetos)

Cronograma de Atividades

Avaliação da Empresa


Conteúdo da Pasta

Perfil

Diagnostico

Plano de Ação (Projetos)

Cronograma de Ações

Relatórios Individuais

Relatório dos Grupos

Avaliação do Cliente

CD com apresentação

Autorização do Cliente

Clipping Impresso e Eletrônico

Critérios de Avaliação

Organização

Criatividade

Conteúdo

sábado, 22 de maio de 2010

Vídeo_Generosidade

Vídeo_Honestidade

Vídeo_Respeito

Vídeo_Caráter

Vídeo_Escolha Certa

Equilibrio Financeiro

equilibriofinanceiro.com.br

Planilhas

A organização financeira é transposta em planilhas, o que favorece um controle adequado de sua renda e de seus gastos, proporcionando maior controle sobre seus rendimentos e gastos mensais. Seguem abaixo, três links (sites) relevantes, com planilhas orçamentárias indispensáveis para quem quer organizar o seu fluxo econômico e atingir o sucesso do seu equilíbrio financeiro.

PLANILHA - Equilíbrio FinanceiroVeja como controlar seu Orçamento.Com alguns controles tudo fica mais fácil.Planilha Mensal - Planilha Anual -

PLANILHA - Redução de Consumo de Energia ElétricaPlanilha que mostra a redução do consumo com a substituição de lâmpadas -

SOFTWARE - HabilSoftware de gerenciamento financeiro pessoal (gratuito)Download Versão 1.5 - clique aqui

BANCO CENTRAL DO BRASIL - http://www.bcb.gov.br/Neste site você encontra; correção de valores, valor futuro de um capital, financiamento com prestações fixas, outros cálculos.http://www.bcb.gov.br/pre/portalcidadao/index.asp?idpai=PORTALBCBEu recomendo.

Vídeo_Inspirar

Vídeo_Portas

Vídeo_Emoções

Vídeo_Qual o Sentido da Vida

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Aula 15 de maio_Sabrae_2ª Parte


Planejando a Abertura do Seu Negócio_2ª Parte_Sala 404

Café da manhã Especial


Aula 12 de maio_Sebrae_1ª Parte


Planejando a Abertura do seu Negócio_1ª Parte_Sala 510

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vídeo_Mercado de Trabalho no Futuro

Vídeo_Dicas de Emprego

Crise_02_História_ José Sarney

O Governo De José Sarney (1985 - 1990)


1. O Governo de José Sarney (1985 - 1990)
Durante o governo de José Sarney consolidou-se o processo de redemocratização do País, o qual garantiu à maioria da população brasileira o direito à participação na vida política nacional. Nesse sentido foi restabelecido o direito de voto, a garantia de amplas liberdades sindicais, além da convocação da Assembléia Nacional Constituin­te, encarregada de elaborar uma nova Carta Constitucio­nal devolvendo o País à democracia.

Para fazer frente às dificuldades econômicas, o Go­verno estabeleceu, em fevereiro de 1986, inúmeras medi­das que visavam a reverter o quadro inflacionário. O en­tão ministro da Fazenda, Dilson Funaro, criou um plano econômico, o chamado Plano Cruzado, que contou com amplo apoio da sociedade de uma maneira geral e, por algum tempo, apresentou efeitos promissores.

O sucesso inicial do Plano Cruzado garantiu a Sarney e ao partido do Governo, uma estrondosa vitória nas elei­ções para os governos estaduais e para o Congresso Na­cional, em novembro de 1986.

Porém, logo no final de 1986, a situação reverteu-se, e o Plano demonstrou seu fracasso frente à falta de merca­dorias, às inúmeras pressões por aumentos e à generaliza­da cobrança de ágio na compra de produtos.

Outros planos foram postos em prática durante o Governo, que, não sendo eficazes, contribuíram para aprofundar a crise econômica e financeira do País. Ao descontrole financeiro juntavam-se o peso da dívida ex­terna, o descrédito do Brasil no mercado internacional, com ausência de investimentos estrangeiros, e a enorme dívida interna do Governo, pois a arrecadação de tributos não atendia aos compromissos existentes.

No final do mandato de José Sarney, as forças políti­cas que compunham o Governo estavam muito desacredi­tadas. A oposição conquistava cada vez mais força. Em fins de 1989, realizaram-se as primeiras eleições diretas presidenciais após o Golpe de 1964. Depois de acirrada disputa entre o candidato do PT (Partido dos Trabalhado­res), Luís Inácio Lula da Silva, e Fernando Collor de Mello, candidato do PRN (Partido da Renovação Nacional), apoi­ado pela direita e pela população mais pobre, Fernando Collor saiu vencedor.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Crise_01_História_Governo José Sarney

Vídeo_Aprendiz_Trabalho em Equipe

Seminários de Resultados e Avaliações_2 GQ

Seminário de Resultados_2ª Apresentação

Quem Somos (Assessoria)

Nosso Cliente (Nome)

Quem é o cliente

Diagnóstico

Planejamento (Projetos)

Cronograma de Atividades

Avaliação da Empresa


Conteúdo da Pasta

Perfil

Diagnostico

Plano de Ação (Projetos)

Cronograma de Ações

Relatórios Individuais

Relatório dos Grupos

Avaliação do Cliente

CD com apresentação

Autorização do Cliente

Clipping Impresso e Eletrônico

Critérios de Avaliação

Organização

Criatividade

Conteúdo

1ª Apresentação_ dia 29 de Maio (Sábado)

1_ Grupo_Flair Play Comunicação

2_ Grupo_Terceira Margem Comunicação
3_Grupo_A3L Comunicação

4_Grupo_Comunica Express


2ª Apresentação_dia 02 de Junho (Quarta-Feira)

1_Grupo_Converse Comunicação

2_Grupo_Nativa Comunicação

3_Grupo_Delta Comunicação

4_Grupo_Azul Comunicação
3ª Apresejntação_dia 05 de Junho (Sábado)

1_Grupo_Actus Comunicação

2_Grupo_Expressa Comunicação

3_Grupo_Rumo Assessoria

4_Grupo_Pólo Comunicação

2GQ

Seminário de Resultados

Pontuação_Zero a Cinco pontos
Apresentação: 1 apresentador
Avaliação: Banca Examinadora

Prova Escrita_22 de Maio_Sábado
Fonte: Manual Gerenciamento de Crises_
Avaliação: 1º Questão
Pontuação_Zero a Três Pontos

Livro
Texto Análise_ O Segredo de Luiza_autor Fernando Dolabela_Pontuação_Zero a dois Pontos_26 de Maio_(Quarta-Feira)
Pontuação: 0 a 2 pontos

Planejando a Abertura da sua Empresa

1 Dia_12 de Maio (Quarta-Feira)_Ketlin Machado (consultora do Sebrae)

2 Dia_15 de Maio (Sábado)_Ketlin Machado (consultora do Sebrae)

Vídeo_Amor

Aula_28 de abril

Na Aula Passada


Gerenciamento de Crises

Perfil
Autorização do Cliente
Diagnóstico
Planejamento de Ação
Cronograma
Acompanhamento das Equipes

Avaliação das Provas

Texto Análise_Bola Pra Frente


Na Aula de Hoje

Assessoria de Imprensa

Texto Análise

Vídeo_Gerenciamento de Crises

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vídeo_Escolhas

Vídeo_Trabalho em Equipe_02

Vídeo_Trabalho em Equipe_01

Análise_Feito Mágica


Feito mágica
Ao vencer o desafio da bagunça e colocar um pouco de ordem no seu dia-a-dia, você ganha tempo, espaço, energia e liberdade para se dedicar àquilo de que mais gosta
Autor da famosa canção erótica “Je T’Aime,Moi Non Plus”, o boêmio compositor francês Serge Gainsbourg era a imagem do desleixo: cabelo desgrenhado, barba por fazer, um copo de licor Pastis na mão e um cigarro Gitanes na outra.O enfant terrible do pop francês fumava cinco maços de cigarro por dia, tomava porres homéricos e chegou a ser preso uma vez, por incendiar um restaurante. Em outras palavras, Gainsbourg era o caos feito pessoa.Dentro de casa, no entanto, ele tinha uma verdadeira obsessão pela ordem.Na residência número 5 da Rue de Verneuil, no bairro de St.-Germain, em Paris, tudo tinha que estar impecável, cada coisa no seu devido lugar, seguindo à risca as regras estipuladas por ele. Os cômodos da casa eram pintados de preto. A cor também estava presente no chão de mármore, na lareira, no sofá e no piano Steinbeck.Até o mordomo era negro. Para Gainsbourg, a cor preta tinha um efeito tranqüilizador. “Ele dizia que tinha uma bagunça tão grande dentro da cabeça que não conseguia tolerar a falta de ordem à sua frente. Ele teria enlouquecido”, conta Jane Birkin, durante anos musa e companheira do compositor, no livro Serge Gainsbourg – Um Punhado de Gitanes.
Assim como Gainsbourg, todos nós precisamos de um pouco de ordem na vida. Isso é o que torna nossa existência viável. É como os trilhos de um trem. Se não estiverem muito bem encaixados e ordenados, o trem descarrila. Agora, se estiver tudo no lugar certo, chegamos ao nosso destino final e, mais que isso, ainda apreciamos as paisagens que surgem durante o caminho. Parece tudo muito poético, mas sem nenhuma utilidade prática? Pois saiba que ela existe, sim, já que algo muito semelhante acontece em nosso cotidiano. Quanto mais nos organizamos (quanto mais os trilhos estão em ordem), mais ganhamos tempo, espaço, energia e liberdade para nos direcionarmos àquilo que realmente nos interessa (chegar ao lugar certo) e nos dá prazer (curtir a paisagem). É muito comum a gente reclamar de não ter tempo de ir ao cinema, realizar uma atividade física ou sair com os amigos, tamanha é a quantidade de trabalho, contas para pagar e obrigações familiares a cumprir. De fato, o mundo está cada vez mais exigente e complicado. Mas vai continuar dessa maneira. Portanto, o melhor a fazer é aprender a lidar com ele. E, com um pouco de organização, tudo fica mais fácil.
Por causa da bagunça,muitas vezes perdemos tempo, dinheiro e paz de espírito com coisas absolutamente desnecessárias. Quem nunca entrou em pânico por não conseguir encontrar um documento importante? Quem nunca teve que pagar multa – e ainda correu o risco de ter a linha cortada – por se esquecer de pagar a conta de telefone? Todo mundo já passou, uma vez ou outra, por situações como essas. Até aí, tudo bem. O problema é quando situações assim passam a ser tão freqüentes que tomam conta da nossa vida. “Os muito desorganizados sofrem muito. É como ter um vírus que vai se alastrando. Começa com um problema aqui, passa a afetar outra área ali, vai crescendo e, quando vê, a pessoa perdeu o controle da situação”, diz Kelley Lara, palestrante da OZ! Sistemas de Organização, que dá cursos e presta assessoria na área. No ambiente de trabalho, por exemplo, um dos custos da bagunça é a menor produtividade. O desorganizado demora mais para encontrar o que precisa em meio à montanha de papelada, correspondência velha e até lixo espalhado pela sua mesa. Por causa da bagunça (física e mental), muitas vezes ele tem que refazer uma mesma tarefa e não é visto como confiável pelo chefe, já que tem dificuldade para cumprir prazos. Pior ainda: vira alvo de gozações por parte dos colegas. “Tudo isso abala a auto-estima da pessoa, que fica ansiosa, insegura e se sente incompetente. Em casos extremos, pode levar à depressão”, diz Kelley. O contrário também pode ser dito: em muitos casos de depressão, as características de organização de cada pessoa lentamente se deterioram.
Mais energia­_Mais especo_Mais tempo_Mais liberdade
O que fazer então para colocar um pouco de ordem no dia-a-dia? E, afinal, o que significa se organizar? “Organizar- se é controlar a própria vida, escolher as prioridades, determinar o que é realmente importante e livrar-se do que é excessivo”, resume a expert norte-americana Donna Smallin, que escreveu três livros sobre o assunto, entre eles o Organize-se. É claro que não existe uma forma única de organização perfeita.Mas os especialistas dão algumas dicas que podem nos ajudar a vencer o desafio da bagunça. Você pode escolher as que são mais adequadas ao seu caso e adaptá-las de acordo com seu estilo. A solução perfeita, na verdade, é aquela que funciona melhor para você.
Os especialistas concordam que para se organizar é necessário planejamento. Com tantos estímulos disputando nossa atenção ao mesmo tempo, é muito fácil se dispersar e deixar o caos tomar conta de tudo. Mas, com planejamento, a gente poupa energia, direcionando-a apenas àquilo que é fundamental. Em termos práticos, isso significa reservar alguns minutos pela manhã para decidir o que fazer durante o dia. Para isso, basta fazer uma lista de tarefas. Simples, não? Isso evita aquele pânico tão comum de ter tantas “coisas a fazer” que a gente não sabe nem por onde começar e que é um convite à procrastinação, aquela característica de deixar tudo “para amanhã” (e esse amanhã nunca chega). Com uma visão geral do que é preciso fazer, você consegue estabelecer suas prioridades. Comece da tarefa mais importante até chegar à menos importante e vá riscando. Você vai se impressionar com a quantidade de coisas que é capaz de fazer em um só dia.
Periodicamente, coloque no papel seus objetivos de médio e longo prazo. Esses planos são sua carta de navegação, aquilo que vai ajudá-lo a manter o foco e a não gastar tempo e energia com o que não é fundamental. Com ele em mente, a cada dia você pode dar um passo a mais em direção à sua realização.Mas lembre-se: seja flexível e esteja preparado para fazer os ajustes que serão inevitáveis ao longo do percurso. Afinal, esses planos são apenas para nos auxiliar e não para nos deixar amarrados. Freqüentemente eles devem ser atualizados e, no caminho, muitos acabam sendo descartados.
Autor da famosa canção erótica “Je T’Aime,Moi Non Plus”, o boêmio compositor francês Serge Gainsbourg era a imagem do desleixo: cabelo desgrenhado, barba por fazer, um copo de licor Pastis na mão e um cigarro Gitanes na outra.O enfant terrible do pop francês fumava cinco maços de cigarro por dia, tomava porres homéricos e chegou a ser preso uma vez, por incendiar um restaurante. Em outras palavras, Gainsbourg era o caos feito pessoa.Dentro de casa, no entanto, ele tinha uma verdadeira obsessão pela ordem.Na residência número 5 da Rue de Verneuil, no bairro de St.-Germain, em Paris, tudo tinha que estar impecável, cada coisa no seu devido lugar, seguindo à risca as regras estipuladas por ele. Os cômodos da casa eram pintados de preto. A cor também estava presente no chão de mármore, na lareira, no sofá e no piano Steinbeck.Até o mordomo era negro. Para Gainsbourg, a cor preta tinha um efeito tranqüilizador. “Ele dizia que tinha uma bagunça tão grande dentro da cabeça que não conseguia tolerar a falta de ordem à sua frente. Ele teria enlouquecido”, conta Jane Birkin, durante anos musa e companheira do compositor, no livro Serge Gainsbourg – Um Punhado de Gitanes.
Assim como Gainsbourg, todos nós precisamos de um pouco de ordem na vida. Isso é o que torna nossa existência viável. É como os trilhos de um trem. Se não estiverem muito bem encaixados e ordenados, o trem descarrila. Agora, se estiver tudo no lugar certo, chegamos ao nosso destino final e, mais que isso, ainda apreciamos as paisagens que surgem durante o caminho. Parece tudo muito poético, mas sem nenhuma utilidade prática? Pois saiba que ela existe, sim, já que algo muito semelhante acontece em nosso cotidiano. Quanto mais nos organizamos (quanto mais os trilhos estão em ordem), mais ganhamos tempo, espaço, energia e liberdade para nos direcionarmos àquilo que realmente nos interessa (chegar ao lugar certo) e nos dá prazer (curtir a paisagem). É muito comum a gente reclamar de não ter tempo de ir ao cinema, realizar uma atividade física ou sair com os amigos, tamanha é a quantidade de trabalho, contas para pagar e obrigações familiares a cumprir. De fato, o mundo está cada vez mais exigente e complicado. Mas vai continuar dessa maneira. Portanto, o melhor a fazer é aprender a lidar com ele. E, com um pouco de organização, tudo fica mais fácil.
Por causa da bagunça,muitas vezes perdemos tempo, dinheiro e paz de espírito com coisas absolutamente desnecessárias. Quem nunca entrou em pânico por não conseguir encontrar um documento importante? Quem nunca teve que pagar multa – e ainda correu o risco de ter a linha cortada – por se esquecer de pagar a conta de telefone? Todo mundo já passou, uma vez ou outra, por situações como essas. Até aí, tudo bem. O problema é quando situações assim passam a ser tão freqüentes que tomam conta da nossa vida. “Os muito desorganizados sofrem muito. É como ter um vírus que vai se alastrando. Começa com um problema aqui, passa a afetar outra área ali, vai crescendo e, quando vê, a pessoa perdeu o controle da situação”, diz Kelley Lara, palestrante da OZ! Sistemas de Organização, que dá cursos e presta assessoria na área. No ambiente de trabalho, por exemplo, um dos custos da bagunça é a menor produtividade. O desorganizado demora mais para encontrar o que precisa em meio à montanha de papelada, correspondência velha e até lixo espalhado pela sua mesa. Por causa da bagunça (física e mental), muitas vezes ele tem que refazer uma mesma tarefa e não é visto como confiável pelo chefe, já que tem dificuldade para cumprir prazos. Pior ainda: vira alvo de gozações por parte dos colegas. “Tudo isso abala a auto-estima da pessoa, que fica ansiosa, insegura e se sente incompetente. Em casos extremos, pode levar à depressão”, diz Kelley. O contrário também pode ser dito: em muitos casos de depressão, as características de organização de cada pessoa lentamente se deterioram.

Mais energia


O que fazer então para colocar um pouco de ordem no dia-a-dia? E, afinal, o que significa se organizar? “Organizar- se é controlar a própria vida, escolher as prioridades, determinar o que é realmente importante e livrar-se do que é excessivo”, resume a expert norte-americana Donna Smallin, que escreveu três livros sobre o assunto, entre eles o Organize-se. É claro que não existe uma forma única de organização perfeita.Mas os especialistas dão algumas dicas que podem nos ajudar a vencer o desafio da bagunça. Você pode escolher as que são mais adequadas ao seu caso e adaptá-las de acordo com seu estilo. A solução perfeita, na verdade, é aquela que funciona melhor para você.
Os especialistas concordam que para se organizar é necessário planejamento. Com tantos estímulos disputando nossa atenção ao mesmo tempo, é muito fácil se dispersar e deixar o caos tomar conta de tudo. Mas, com planejamento, a gente poupa energia, direcionando-a apenas àquilo que é fundamental. Em termos práticos, isso significa reservar alguns minutos pela manhã para decidir o que fazer durante o dia. Para isso, basta fazer uma lista de tarefas. Simples, não? Isso evita aquele pânico tão comum de ter tantas “coisas a fazer” que a gente não sabe nem por onde começar e que é um convite à procrastinação, aquela característica de deixar tudo “para amanhã” (e esse amanhã nunca chega). Com uma visão geral do que é preciso fazer, você consegue estabelecer suas prioridades. Comece da tarefa mais importante até chegar à menos importante e vá riscando. Você vai se impressionar com a quantidade de coisas que é capaz de fazer em um só dia.
Periodicamente, coloque no papel seus objetivos de médio e longo prazo. Esses planos são sua carta de navegação, aquilo que vai ajudá-lo a manter o foco e a não gastar tempo e energia com o que não é fundamental. Com ele em mente, a cada dia você pode dar um passo a mais em direção à sua realização.Mas lembre-se: seja flexível e esteja preparado para fazer os ajustes que serão inevitáveis ao longo do percurso. Afinal, esses planos são apenas para nos auxiliar e não para nos deixar amarrados. Freqüentemente eles devem ser atualizados e, no caminho, muitos acabam sendo descartados.

Mais espaço


Não espere organizar tudo de uma vez só. Quem tem uma vida muito desorganizada não fez isso da noite para o dia e vai levar um tempo até conseguir colocá-la em ordem – e mais ainda para conseguir mantê-la organizada. Já no século 17 o filósofo francês René Descartes, autor do Discurso sobre o Método, falava da importância de, ao se estudar um fenômeno complexo, dividi-lo ao máximo em partes menores e mais simples, de forma a tornar possível entendê-lo. O mesmo método vale para arrumar nossa vida. Essa tarefa (gigantesca para muitos, sem dúvida) tem que ser feita aos poucos, realizando uma coisa de cada vez. Cada passo bem-sucedido é um estímulo para continuar nessa direção.
Que tal começar arrumando seu quarto? Isso mesmo. Simples assim.O bê-á-bá. Já reparou como nos momentos em que precisamos nos concentrar, realizar um trabalho importante, em primeiro lugar arrumamos o espaço físico ao nosso redor para então seguir em frente com nossa tarefa? Isso não é à toa.“O caos físico gera desorganização mental e vice-versa. Ao organizar o nosso espaço, nós nos organizamos mentalmente também”, diz Kelley.É como a casa arrumadinha e pintadinha de preto do nosso amigo bebum Serge Gainsbourg, personagem do início desta reportagem. Ele precisava disso para não enlouquecer com a vida caótica que levava fora. Depois do quarto, passe para a cozinha, depois para a sala, o banheiro, o escritório, o carro e tudo mais que estiver ao seu redor. Mas vá aos poucos, claro, sem grande afobação. Ou seja: muitas vezes somos desorganizados porque, uma vez, deixamos uma pequena parcela de bagunça tomar conta de algum aspecto da nossa vida. Essa primeira centelha se espalha e pronto: a balbúrdia tomou conta. Aí, até como defesa, acaba sendo natural evitar o confronto com a desorganização.


Em casa ou no trabalho, livre-se da bagunça – o excesso de coisas sem as quais você pode viver melhor. “Tenha como meta cercar-se apenas de coisas que você usa e das quais gosta e desfaça- se de tudo aquilo que só ocupa seu valioso espaço”, diz Donna. Para simplificar a vida e torná-la mais produtiva, é importante aprender a descartar, a livrar-se do que é desnecessário. No caso de roupas, por exemplo, que tal separar aquelas que você não usa mais (e que só ocupam espaço no armário e juntam poeira) para dar a quem precisa? Elas também podem render um dinheirinho extra, se você vendê-las a um brechó.O mesmo vale para livros e revistas.Guarde os que são importantes para você e doe o restante para bibliotecas públicas ou para o consultório do seu dentista.Você também pode trocá-los por outros ou até mesmo vendê-los a um sebo.


Para algumas pessoas,descartar pode ser um processo difícil e até mesmo doloroso.Muitas vezes quem acumula possui vínculos emocionais com os objetos e não consegue se livrar deles. Minha mãe, por exemplo, mesmo agora que os filhos são adultos, ainda guarda boa parte dos objetos de quando eu e os meus irmãos éramos crianças. Até mesmo os cadernos escolares! “Você pode ajudá-la oferecendo uma troca”, me aconselha Kelley.“No lugar de guardar todos os seus brinquedos de infância, por exemplo, peça a ela que escolha apenas um ou dois, os mais significativos. O restante pode ser doado”, afirma.


Às vezes uma grande mudança vira nossa vida de cabeça para baixo. Foi o que aconteceu com a administradora de empresas Cristiane Berezin, 36, quando deu à luz as gêmeas Esther e Laura há um ano e meio. “Fiquei perdida”, conta. Com depressão pós-parto, ela ficou ainda mais abalada porque suas filhas tiveram uma inflamação nos bronquíolos.“Me senti culpada”, diz Cristiane, que na época já era mãe de uma menina hoje com 4 anos. Ela também recebia nos fins de semana os filhos do casamento anterior do marido. “De repente me vi com cinco crianças para cuidar,além do meu marido, da minha casa e do meu trabalho. Era muita coisa para mim”, afirma.Aos poucos, porém, a administradora foi colocando ordem no dia-a-dia de forma a ser capaz de lidar com tantas demandas diferente. Fez terapia e se mudou de São Paulo para Atibaia, em busca de uma vida mais tranqüila. Contratou uma babá e procurou dicas de organização em sites da internet. Pediu auxílio de um serviço especializado quando se mudou de casa.“Hoje, para me organizar, faço listas no computador das compras de supermercado, feira, farmácia e utensílios para as crianças. Quando acaba o pão, já marco na lista. Coloco etiquetas nas roupas dos bebês e ensino à empregada e à babá como manter tudo organizado. Delego funções e divido também as tarefas com meu marido”, diz. “Sem tudo isso, minha vida seria um caos. É claro que às vezes algumas coisas saem erradas, mas faz parte.”

Mais tempo


Na hora da arrumação, procure estabelecer nichos específicos para cada coisa. Escolha, por exemplo, um lugar para deixar sempre a chave de casa. Outro para guardar os documentos mais importantes. Compre uma pasta para colocar todas as contas.Mas preste atenção para que essa organização seja feita de forma prática, pois, quanto mais você complica, mais difícil será mantê-la. A organização serve para facilitar a vida e não para dificultá-la.
Além do “efeito organização interna”, colocar cada coisa em seu lugar (e mantê-la ordenada) ajuda a poupar tempo, esse bem tão desejado nos nossos dias. “Ao contrário do que muita gente pensa, organizar o espaço não é uma perda de tempo. É um ganho,pois você vai saber exatamente onde estão as coisas e não vai mais perder minutos preciosos ou até mesmo horas preciosas procurando-as”, afirma a psicóloga Sâmia Simurro, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).

Mais liberdade


É claro que regras demais são uma ameaça à criatividade, uma qualidade fundamental. No limite, podem até ser sinal de doença, como a do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Portanto, não vamos exagerar. Ninguém aqui quer pregar o fim da espontaneidade. Afinal, a vida não teria graça nenhuma sem ela. Algumas das mais belas canções de amor do mundo não teriam sido criadas por Gainsbourg se ele tivesse levado apenas uma vida certinha, monótona e cheia de regras. Estamos falando de uma organização que, na medida certa, serve em grande medida para simplificar nossa vida. Trata-se, na realidade,de uma forma de libertação.Uma boa síntese disso é feita pelo filósofo Mario Sergio Cortella, professor da PUC de São Paulo.Diz ele: “Tenho uma razão muito simples para ser uma pessoa organizada: gosto muito de cultivar o ócio.Quanto mais organizado eu sou, mais tempo livre eu tenho para me dedicar àquilo de que mais gosto. Ou seja, ficar sem fazer nada e sem culpa”.Um ótimo motivo, não?

Para saber mais


Livros:
Organize-se – Soluções Simples e Fáceis para Vencer o Desafio Diário da Bagunça, Donna Smallin, Gente
A Arte de Fazer Acontecer, David Allen, Campus


Fonte: Revista Vida Simples

Análise_Bola Pra Frente


Bola Pra Frente

Tem dias que a gente convive com a sensação incômoda de que era melhor não ter levantado da cama. As horas custam a passar e ficamos com a impressão de que tudo parou, pelo menos em nossa vida. Se fôssemos poetas, como o Chico, diríamos algo como: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu...".


Não importa o que você faça, sua profissão ou seu grau de sucesso. Você certamente já experimentou esse sentimento de que algo está errado e que, provavelmente, nada mais dará certo. Não há ninguém no mundo que já não tenha sentido o gosto do fracasso, da perda, da desesperança. Os motivos podem ser os mais variados, da perda do emprego até o fim de um amor - ou mesmo a percepção de que um sonho antigo, tão querido e acalentado, provavelmente não se realizará.

Em grau maior, às vezes ficamos pasmos e mudos diante das notícias do jornal sobre o que estão fazendo com nosso mundinho em todos os lugares. Desde o bairro aqui do lado, onde um crime passional aconteceu, até aqueles países em que o fundamentalismo mostra a (feia) cara.

Tem dias que parece que a nossa bola parou de rolar. Ou, pior, parece que estamos quase fazendo um gol contra. Muito cuidado nessa hora. É melhor baixar a emoção por um instante, conter o ímpeto de fazer a primeira loucura que passar pela cabeça. O melhor é mandar a bola pra frente, que é para onde ela sempre deve estar indo, em direção ao seu destino.

Vamos ser honestos: este texto, apesar de ser uma prosa, parece que está tentando parecer poesia, não é mesmo? Apelando para a emoção, citando uma frase musical e lembrando uma das expressões idiomáticas mais utilizadas em nosso país - bola pra frente! Pois é, mas apesar dessa aparência romântica, estamos tratando de um assunto tão sério quanto corriqueiro. Afinal, a necessidade que temos de olhar para a frente e enfrentar a carga de forças contrárias é muito grande.

Quando comecei a pensar nesse tema, me detive numa auto-análise, tentando lembrar quantas vezes vivi essa situação de ter que engolir em seco e continuar o jogo, apesar das circunstâncias. Conversando com amigos, recebi a mesma informação. Todos relatam coleções de momentos de retomada do jogo. Um chegou a me dizer: "Eu nunca saí do jogo, mas parece que o estou (re)começando quase todos os dias".

Pensando bem, é isso mesmo que fazemos o tempo todo: começamos o jogo de novo. Quem não tem a energia necessária para esse eterno começar fica de fora do jogo e, claro, perde. E haja energia...

Energia para continuar

De modo geral, todos sabemos o que é energia e que resultados ela produz. E sabemos também que a energia pode se manifestar de diversas formas: térmica, mecânica, elétrica, nuclear etc. Vale lembrar que existe uma lei explicando que a quantidade total de energia no Universo, que é um sistema fechado, nunca se altera, só se transforma de um tipo em outro, num processo permanente. Também vale lembrar que nós todos possuímos dentro de nós uma energia só humana, a "energia psíquica".

O ser humano, de acordo com Jung (Carl G. Jung, 1875-1961), produz e depende desse tipo particular de energia para manter a própria vida. Jung apresentou esse conceito em seu livro Metamorfose e Símbolos da Libido, no qual chamou a energia psíquica pelo nome de "libido". Nisso foi diferente de Freud (Sigmund Freud, 1856-1939), que atribuía à libido uma significação exclusivamente sexual. No conceito junguiano, a libido, ou energia psíquica, tem um sentido mais amplo, ligado ao instinto permanente de viver, e se manifesta por tudo o que providencia a manutenção da vida, como a fome, a sede e a sexualidade, mas também o entusiasmo, o interesse, a vontade, a resiliência.

Resiliência? O que é isso? Mais uma vez a física: é a propriedade por meio da qual a energia armazenada num corpo deformado por um choque é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação. Em outras palavras, é a resistência de um corpo a um choque. A energia de um chute numa bola a deforma - mas apenas por um instante, pois logo essa energia é incorporada pela bola e transformada em deslocamento. Simples assim.

Mas é bom lembrar um detalhe pra lá de importante: a bola é resiliente porque tem uma tensão interna própria, que permite transformar a energia externa em movimento. Bola murcha não vai longe, pois se deforma e não recupera a forma original.

O mesmo ocorre com as pessoas. Os choques que recebemos, e não são poucos, podem ser transformados em movimento ou podem nos deformar e nos converter em uma massa amorfa e inerte, incapaz de reagir e ir longe. A diferença entre essas duas possibilidades depende da calibragem interna, da energia psíquica, da libido, da presença de Eros, o deus da Vida, em contraposição a Tanatos, o deus da Morte. Bola cheia é redonda, firme, boa de pegar, erótica. Bola murcha é desagradável, repugnante, não responde, parece morta.

Para que possamos mandar a "bola pra frente" precisamos estar redondos, firmes, bons de pegar, eróticos. O oposto disso você já sabe...

Jung diz que todos os fenômenos psíquicos são de natureza energética e vê a psique em incessante dinamismo. Correntes de energia cruzam-se continuamente. Tensões diferentes, pólos opostos, correntes em que a energia progride num sentido e regride no outro, promovendo movimentos constantes, aos quais podemos chamar de "vida interior", responsáveis também pelo relacionamento com o mundo repleto de variáveis.

Tudo se transforma

Segundo Jung, a energia psíquica se comporta como a energia física num sistema fechado, não pode ser perdida nem criada, apenas transformada. "Nenhum valor psíquico pode desaparecer sem que seja substituído por outro." Por isso, muito cuidado para canalizar adequadamente sua energia psíquica, pois quando ela sai do controle pode provocar alguns estragos.

Jung relata o tratamento de um paciente que, ao ser abandonado por sua noiva, que o trocou por outro, teve inicialmente uma reação indignada, mas cheia de energia construtiva, de alguém que deseja ir à forra, dar a volta por cima e não se deixar abater por esse infortúnio. No entanto, em lugar de fazer isso, ele deprimiu-se, abandonou a idéia de reagir e passou a apresentar sintomas físicos, com dores que não eram explicadas clinicamente. A energia foi canalizada para o corpo e o castigou.

Perceba a importância da "bola pra frente". A energia que estávamos dedicando a um projeto que terminou, ou fracassou, deve ser desviada para outro, sob pena de transformarmos essa energia numa fonte destrutiva da auto-estima e do próprio corpo. Os complexos nada mais são do que "nós" de energia. Auto-imagens que criamos a partir de momentos mal resolvidos, porque não conseguimos superar nem reagir aos choques externos. Baixa resiliência absorve a energia e não a devolve em forma de movimento. Interioriza e somatiza, transformando frustração em doença.

Não é incomum a gente ter essa sensação desagradável de não estar gostando do que está acontecendo. Nesses momentos, olhamos para a frente e vemos uma espécie de encruzilhada que se abre em dois caminhos, ambos misteriosos, e sabemos que um deles, com certeza, vai nos levar a sair do estado deplorável em que nos colocamos - ou nos colocaram. O problema é encontrar força e sabedoria para escolher o caminho certo, pois ir para o lado errado é uma forte tendência. Você já percebeu como tem gente que teima em escolher o lado errado da encruzilhada e vai por aí repetindo os erros e semeando lamúrias só para colher compaixão em troca?

O sábio persa Zaratustra disse, há muitos séculos, que há momentos na vida de um homem em que não basta ser apenas um homem, é preciso ser um super-homem. E isso significa que precisamos encontrar forças para vencer os inimigos. Ele alerta, porém, que nossos piores inimigos não são os de fora, mas os de dentro de nós mesmos, os "inimigos internos", e entre eles estão o medo, a ignorância e a indolência. Portanto, "bola pra frente" não significa chutar de qualquer maneira, obedecendo ao desespero, mas organizar a energia interna e concentrá-la no ato de reagir e continuar a vida de maneira mais coerente com os resultados que desejamos alcançar.

Apenas uma palavra

Nosso povo é acolhedor e dado ao relacionamento humano fraterno. É cheio de tiradas e frases de efeito, que podem alegrar, indignar, ridicularizar ou entusiasmar. Abraçar um amigo que se encontra num momento especialmente ruim e dizer-lhe simplesmente: "Bola pra frente, meu caro, a vida continua", pode parecer um conjunto de palavras vazias, mas pode - e comumente o faz - ter o efeito de mobilizar a energia psíquica da pessoa que, derrubada pela decepção ou pela dor, estava retida e ameaçava transformar-se em energia destrutiva.

Em seu belo livro O Velho e o Mar, Ernest Hemingway relata a história de Santiago, um velho pescador cubano que trava contato com dois infernos. O primeiro é a ausência de sorte, que o levou a ficar 84 dias sem pescar um peixe sequer. Diziam os outros pescadores que ele havia se transformado num salao, um azarento da pior espécie.

A fase ruim levou Santiago a conhecer a penúria e sua tristeza ficou maior quando perdeu seu auxiliar, um garoto que não só o ajudava como o admirava, mas que se transferiu para um barco de melhores resultados. Santiago, porém, não é homem de lamúrias, muito menos de desistências. Parte sozinho para alto-mar, sentindo falta do garoto, mas acompanhado por uma forte certeza de que "hoje será um grande dia para a pesca de marlins".

O segundo inferno ele conhece após ter visitado o céu. Fisga um peixe enorme, com o qual trava uma batalha de três dias. Consegue vencê-lo, trazê-lo até o pequeno barco e amarrá-lo ao costado - pois dentro não cabia, maior que o próprio barco ele era. Santiago, só contentamento, passa a viver o novo martírio. Tubarões, atraídos pelo sangue do peixe morto, começam a aparecer e a arrancar-lhe pedaços. Santiago ainda consegue matar três e, num momento, grita alto: "Um homem pode ser destruído, jamais vencido". Continua a lutar com as forças e as ferramentas que lhe restam. Todo em vão, pois os tubarões não param de chegar. Quando finalmente atinge a praia, apenas arrasta um enorme esqueleto inútil.

A cena que segue é repleta de tristeza - e enorme beleza. Seu amigo, o garoto aprendiz, o procura, declarando sua preocupação com o desaparecimento do mestre por três dias, e lhe diz que vai voltar a pescar com ele, pois quer aprender mais. Santiago, desolado, diz: "Não é mais possível, a sorte me abandonou por completo". Ao que o garoto retruca: "Não se preocupe, eu levarei a sorte comigo". Este argumento foi o suficiente para o "velho" se recuperar.

A desesperança dá lugar ao ânimo para seguir em frente. "Precisamos de uma nova lança. Podemos fazê-la com qualquer chapa de aço de um velho Ford." Rapidamente Santiago renasce, lembrando que ainda haveria pelo menos três dias de brisa forte, e que eles deveriam ser aproveitados. A sorte voltaria, trazida pela brisa da esperança. Exatamente como nossa vida deve ser; sempre pra frente...

Eugênio Mussak é biólogo e educador, consultor na área de desenvolvimento humano, autor e conferencista. Suas idéias objetivas podem ser encontradas em www.eugeniomussak.com.br

Fonte: Revista Vida Simples