Fim dos maus-tratos
O texto de Veja também foi a gota d'água que fez transbordar o reservatório de ressentimentos acumulados pelos assessores de imprensa. Em dois encontros realizados em outubro do ano passado, em São Paulo, de âmbito estadual, e em Fortaleza, de abrangência nacional, os assessores procuraram dar um basta à situação - chega de maus-tratos, foi a mensagem-síntese desses encontros, segundo definição do jornalista Eduardo Ribeiro, responsável pela seção Misto Quente de IMPRENSA. A "Carta de Atibaia", que resume as conclusões do encontro realizado em São Paulo, ratificadas na reunião nacional de Fortaleza, afirma que "os assessores não aceitam discriminação profissional, pois o segmento tem atuado, em sua grande maioria, de forma ética, séria e profissional". O documento exige "postura ética dos colegas de redação" e dá um tapa com luva de pelica: "hoje a mídia em geral não prescinde dos trabalhos das assessorias e, portanto, deve respeitá-las".
A matéria de Veja foi considerada pela jornalista Rosa Moreira, da Conjai - Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa da Fenaj, "exemplo de antijornalismo", pois o repórter "não ouviu as partes citadas na matéria: os colegas assessores de imprensa". Ela acrescenta que nos anais da imprensa brasileira não faltam exemplos de antijornalismo ou comprometimento com as elites. O coro de protestos contra a revista foi reforçado pela jornalista Mylene Margarida, Coordenadora do Núcleo de Assessorias de Imprensa em Santa Catarina, que acusou as redações de praticarem o antijornalismo, com "a publicação de matérias com fontes duvidosas, sensacionalismo barato e endeusamento de bandidos".
Essa guerra de jornalistas contra jornalistas é relativamente recente e resulta das transformações pelas quais a imprensa passou em função do golpe militar de 1964, do regime autoritário que se instaurou no país a partir dessa data e da "modernização" das empresas editoras de jornais e revistas. Durante o regime militar, como a política se tornou assunto proibido ou limitado às regras do poder e a sociedade civil foi excluída das decisões políticas, a economia passou a ser uma opção de assunto jornalístico. A partir da década de 70, com o "milagre econômico" e logo depois, com os períodos de elevados índices de inflação e sucessivos planos "salvadores", o noticiário econômico passou a ter forte apelo popular, e as editorias de economia começaram a se estruturar e crescer.
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