A lógica do negócio
A partir da década de 70, nas empresas editoras de jornais e revistas, a lógica do negócio se sobrepôs à do jornalismo. Na década de 80 a Editora Abril chegou à sofisticação de transformar o editor de algumas revistas em publisher, com a ingrata tarefa de conciliar, "docemente constrangido", o material editorial com o comercial. Essa experiência não foi oficializada de direito - a figura do publisher não ganhou status no organograma das redações -, mas está em vigor de fato, na prática.
Em outras editoras, essa simbiose, que pode comprometer a qualidade da informação ou transformar em reciprocidade editorial a venda de espaço comercial, é mais evidente, ou até abertamente confessada. É o caso, por exemplo, da Editora Globo, que chegou a anunciar no Big, o seu jornal interno, essa aliança editorial-comercial. Um exemplo: em fevereiro de 1997, a revista Pequenas Empresas Grandes Negócios publicou a reportagem "Aliados ágeis e poderosos", especial sobre veículos, a mesma matéria, feita pelo mesmo repórter, com adaptações, publicada pelo Globo Rural, na edição de maio, com o título "O lucro viaja sobre rodas". O ponto alto dessa "nova" concepção foi o lançamento da revista Zero Km, um projeto conjunto com a Fiat, anunciado como a inauguração de "um conceito inédito no país - a segmentação de marca". Durou exatamente um ano. Fechou com a saída da montadora da sociedade. Embora a redação procurasse fazer a revista com a melhor técnica jornalística possível, o projeto trazia a marca do pecado original: uma editora de revistas corre o risco de se desmoralizar e perder a credibilidade ao publicar house-organs de empresas, ainda que sob a pomposa etiqueta de "segmentação de marca". Antigamente os jornalistas davam outro nome a esse conceito.
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