quinta-feira, 11 de março de 2010

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O deslumbramento do cliente


Esse problema, do triângulo de amor-e-ódio que paradoxalmente une e separa jornalistas, assessores e clientes, é muito comum. Principalmente quando o cliente experimenta, pela primeira vez, o trabalho de assessoria. Como resultado do trabalho da assessoria, ele começa a aparecer e a opinar sobre assuntos relacionados com sua área de atuação. É picado pela mosca azul do sucesso e se deslumbra. Passa a se achar a personalidade mais importante do mundo. Um dia, estourando de ansiedade, chama o assessor com a pergunta que todo assessorado emergente esconde nos recônditos mais inexpugnáveis do coração e do cérebro: "Por que ainda não apareci no Jornal Nacional?"

Um profissional que dava assessoria para o dirigente de uma entidade de joalheiros um dia foi surpreendido com essa pergunta. Nela estava embutida a ameaça de interrupção do contrato. O assessor, depois de explicar longamente ao cliente que as informações de que ele dispunha não eram notícia para o telejornal, e diante da insistência do cliente, não teve dúvidas e propôs duas opções: que ele subisse ao terraço do Edifício Itália e ameaçasse se suicidar ou atirasse diamantes e jóias aos transeuntes. Ainda assim não garantia qualquer notícia no Jornal Nacional, nem que fosse póstuma. Depois de algum tempo, perdeu a conta.

Esse é outro equívoco freqüente das fontes, segundo o manual da Fenaj: "exigir que a assessoria de imprensa consiga, por meio de seu "poder de influência", ampliar o espaço de divulgação para a fonte nos diversos veículos de comunicação. É a história do "faça o que for necessário para que eu esteja diariamente no noticiário". Isso é uma distorção do efetivo trabalho de uma assessoria de imprensa. Não é ela que coloca seu assessorado no noticiário, nem tem obrigação disso. O que determina a veiculação de uma notícia pelos órgão de comunicação é o seu interesse jornalístico."

Uma fonte permanente de atrito entre assessores e seus clientes com os jornalistas são as pressões sobre a notícia, principalmente com o objetivo de inserir determinado assunto ou sustar notícia desfavorável, segundo a Fenaj: "Essas pressões são, em geral, recebidas em qualquer redação séria e competente com profunda indignação. Tanto mais se forem realizadas via poder econômico (departamento comercial, por exemplo), político ou via proprietário do veículo. A fonte que venha a ter algum êxito em sua iniciativa ficará irremediavelmente marcada pelos jornalistas."

Ao analisar essas situações, Mauro Lima Wu, presidente da Anece -Associação Nacional das Empresas de Comunicação Social, diz que, apesar das dificuldades, houve um processo de profissionalização e de reeducação ao longo dos anos, o que permitiu maior aproximação e melhor relacionamento do assessor tanto com clientes como com os jornalistas de redação.

Uma questão delicada e pouco discutida é a que envolve as convicções do cliente e do assessor. Embora o problema seja mais evidente em entidades sindicais e órgãos do governo, também ocorre em empresas privadas, envolvendo questões ideológicas e político-partidárias. Em geral, os clientes e empregadores fazem pressão para que os jornalistas sigam a opção de quem os contrata. O jornalista de redação, entretanto, também não está imune a esse problema. É comum as chefias discriminarem os profissionais que não seguem a chamada "linha da casa".

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