quinta-feira, 11 de março de 2010

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As mentiras dos clientes


O cliente também é causa de muitos problemas nas relações entre assessores e jornalistas. Luciano Ornellas admite que algumas vezes o assessor é induzido a erro pela própria direção da empresa. E relembra um caso acontecido com ele em 1994. Na época, o então presidente do banco, Carlos Augusto Nemberg, o fez enviar uma carta ao Estadão, pedindo retificação de notícia divulgada pelo jornal. "O Estado publicou a carta, mas manteve as informações divulgadas. Seis meses depois, com a intervenção federal no banco, as informações que eu havia pedido para desmentir se confirmavam. Foi uma situação extremamente desagradável. Acreditei que o presidente detinha as informações corretas sobre a empresa e acabei passando a imagem de alguém que tentava manipular uma informação, simplesmente para 'limpar a barra'. Minha imagem só não ficou prejudicada porque, quando assumi a assessoria do banco, já havia passado mais de trinta anos nas redações. As pessoas me respeitam porque conhecem meu passado profissional", diz.

Yara Peres, da Companhia de Notícias, reconhece que é difícil e árduo o trabalho de convencimento do cliente sobre a necessidade de transparência nas informações e, mais que isso, o entendimento do cliente sobre a dinâmica da imprensa. "Muitos deles chegam ao Brasil com a visão do trabalho feito na Europa ou nos Estados Unidos e acham que é a mesma coisa. E não é. Como já conheço bem esse problema, procuro passar a eles todo o histórico da imprensa no País, assim como o desenvolvimento do trabalho de assessoria e o relacionamento entre as partes. Justamente para evitar informações incorretas ou distorcidas", explica.

Esse é um equívoco freqüente cometido pelas fontes e também por assessorias de comunicação, segundo o Manual Nacional de Assessoria de Imprensa da Fenaj, que alerta: "A mentira é condenável em qualquer circunstância. (...) A verdade, ainda que referente a um fato desagradável ou inconveniente, pode ser melhor compreendida do que qualquer mentira e nunca fecha as portas para futuros esclarecimentos." Em política, a veracidade das informações é um problema, diz Carlos Brickman. Por isso, quando deu assessoria a políticos, sempre que passava a um repórter informações sobre um candidato adversário, procurava indicar todos os caminhos para que o jornalista pudesse conferir os dados.

Embora a mentira seja abominável, uma evidência é certa: o trabalho de assessoria de imprensa muitas vezes se situa numa área nebulosa onde nem sempre a verdade é liberada para a imprensa, como admite o manual da Fenaj: "a liberação de informações para os veículos de comunicação tem implicações mais amplas, pois envolve a perfeita consciência do que é passível de se transformar em notícia e qual a melhor oportunidade de fazê-lo, bem como do que pode ser divulgado sem causar prejuízos ao assessorado, mas, ao mesmo tempo, sem furtar-se ao dever de prestar esclarecimentos à opinião pública".

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